terça-feira, 21 de outubro de 2008

Esperança

Ao procurar um ficheiro no computador, dei de caras com uma entrevista do DN com Francisco Allen Gomes datada de 22 de Junho de 2002 ...


(...)André Malraux nas suas anti-memórias faz uma conversa com um padre de uma zona montanhosa, junto à vila de onde Malraux era natural e pergunta:
Ó padre que é que lhe ensinaram 15 anos de confissão?
O padre pensa e disse “Em primeiro lugar que as pessoas sofrem muito mais do que se julga, e depois que não há grandes pessoas. Não por serem excessivamente perversas mas porque de facto se sofre muito
É a sua visão?
O ser humano é um ser que sofre imenso. E tem que sofrer: o homem é a construção mais cruel da natureza. Nasce com um handicap horrível: primeiro sabe que inevitavelmente morre; segundo não sabe quando e terceiro não sabe o que lhe sucede depois de morrer.
Eu acrescentava um quarto: que não sabe o que lhe acontece até morrer:
Já viu temos de viver com isto. Por outro lado há quem diga que a natureza humana é má. Eu digo “Quem quiser ver como a natureza humana é basta assistir ao casamento de dois jovens”.
Como assim?
Vão fazer uma ligação que a maior parte das pessoas sabe como vai terminar. Eles mesmo, quando estão na igreja, sabem bem da vida: sabem que o pai e a mãe se divorciaram, que os amigos se divorciaram. Mas quando estão a dizer o sim, com toda a pompa e toda a jura, estão convictos de que com eles vai ser diferente. E isso é extraordinário.

1 comentário:

mimanora disse...

É isso mesmo,apesar de todo o sofrimento, o ser humano não perde a esperança e acha que com ele vai ser diferente.
Por isso se atira de cabeça e se entrega com toda a alma. Tem sempre esperança (inconsciente) de que não vai sofrer.
Estranho, não?